IMG 3056Legenda: Ribeira do Porto

RELATO DE UMA INTERCAMBISTA: UNIVERSIDADE DO PORTO – PORTUGAL
Júlia Oselame Graf

Dia 20 de maio de 2015. Atualizei a página da FURG mais de mil vezes até finalmente ser divulgado o resultado do edital de bolsas Luso-Brasileiras Santander Universidades. E sim, meu nome estava ali, primeiro lugar na classificação geral. A vaga tão sonhada era minha. O coração começou a palpitar e eu já nem sabia mais o que pensar. Não sabia se gritava ou se corria. Não cabia em mim tanta felicidade. Então a papelada foi providenciada e o destino final foi tomando forma.

Dia 25 de agosto de 2015. Família reunida. Abraço de tchau. Emoção que transbordava através das lágrimas. Primeira vez em um avião, tratei de apertar bem o cinto, mas confesso que pensei ser pior. A viagem foi ótima mesmo em meio as turbulências. Observei pela janela muito mais do que uma paisagem ou uma “mini cidade”. Vi sonhos sendo realizados. Vi a recompensa de todo um esforço. Tive a liberdade de viver um sonho. A liberdade de voar para longe. Voar para um lugar que eu sempre sonhei.

            Primeiro dia de intercâmbio. Você pisa em terras desconhecidas. Sofre com o jet lag. Se joga de cabeça em um lugar que você sequer sabe o nome da rua que está. Sorri e vai até a janela observar o ambiente para ter certeza de que está do outro lado do oceano. “É verdade mesmo”, pensei. Já não estava mais na minha zona de conforto. Conheci uma simpática alemã que sorridente me deu oi e perguntou meu nome. Senti como se estivesse aprendendo a viver novamente. Um novo mundo. Meus pés estavam preparados. Peguei um mapa e sai descobrindo a cidade. Me descobrindo. Estava morando em Portugal.

            A recepção pela Universidade do Porto foi incrível. A atenção dada. Inúmeras reuniões para orientar e guiar os alunos de mobilidade acadêmica. E pasmem. Eram muitos alunos brasileiros chegando juntos. Estávamos em casa. Tivemos a possibilidade de escolher as disciplinas que seriam cursadas e um mês de liberdade para trocá-las a qualquer momento. As aulas de cada disciplina se dividiam entre 3 aulas teóricas e 2 aulas práticas por semana.

Primeira aula. Sentei na terceira classe, estava ansiosa. Não entendi muitas coisas que a professora falou. Pensei por um momento que ela estava falando grego ao invés de português. Ainda bem que isso passou. Depois nem percebia mais a diferença. Ademais, descobri que os professores portugueses são muito solícitos e aquela história de que não há possibilidade de contato é pura lenda urbana. Até hoje tenho o auxílio de uma das professoras através de e-mails. Participei de palestras. Pude apresentar um trabalho acadêmico em Portugal e não só trazer uma bagagem, mas compartilhar conhecimento.

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Legenda: Pôster apresentado no IJUP 2016

Além da vivência no âmbito acadêmico, pude ter contato direto com outras culturas. Há pessoas de todos os países possíveis habitando o mesmo local. Há a possibilidade de descobrir o novo. De se recriar. Aprender ou aprimorar outros idiomas. Viver uma vida completamente diferente por seis meses. Que acrescenta sabedoria. Uma troca cultural que te proporciona ir além do senso comum. Te faz ver o mundo com outros olhos.

Imperioso se mostra acrescentar que nem todos os dias foram flores, tampouco não houve dias de saudade. O coração pede o carinho da família e dos amigos. Porém no fim das contas, ao colocar na balança, a vontade de aproveitar a oportunidade de estudar e morar em outro país é indescritível. De um lado a saudade, do outro a recompensa.

Há pessoas que convivemos poucos dias e queríamos ter tempo de conhecer mais. Já outras se aproximam e tornam-se alicerces quando um oceano nos distancia de quem amamos. A hora do tchau é triste. Você abraça seus amigos que dividiram o apartamento. Lembra de tudo que passaram juntos. As marcas dos sonhos, dos sorrisos e das gentilezas. Aqueles momentos não planejados. Cada um vai para um canto. A saudade é inevitável.

Por fim, havia um lugar no Porto que me encantava. A Ribeira era estonteantemente linda, eu ficava admirando a mesma por horas. Desconectava do mundo. Respirava ar puro. Parava para agradecer sempre por poder estar vivendo aquele momento do intercâmbio. Um oceano de distância. Um oceano de desafios. Um oceano de oportunidades. Diferentes culturas, muitos idiomas, tanta história para contar. Nenhum arrependimento.

Os seis meses passaram num piscar de olhos. Quando percebi, o dia 25 de fevereiro de 2016 havia chegado e eu estava voltando. Com muitos sorrisos guardados e a bagagem cheia de sentimentos, conhecimentos e histórias. O intercâmbio é uma oportunidade única que não se restringe nestas palavras. É viver de corpo e alma o lugar que te acolheu. Gratidão é a palavra que resume meu sentimento depois dessa experiência. Já dizia Agustina Bessa Luis: “O Porto não é um lugar. É um sentimento”.IMG 3075

Legenda: 1) “O Porto não é um lugar. É um sentimento” Azulejo encontra-se na Rua da Cedofeita; 2) Foto tirada na chegada de dentro do avião; 3) Estação de Trem São Bento; 4) “Francesinha”, prato típico do Porto; 5) Faculdade de Direito da Universidade do Porto; 6) Participação em uma das corridas organizadas pela RunPorto; 7) Kit de chegada para os alunos de mobilidade acadêmica.