MOBILIDADE BRAMEX

Isabela Michel Lucini

"No segundo semestre de 2018 fui selecionada para realizar intercâmbio pelo programa BraMex no Instituto Tecnológico Roque (ITRoque), um campus do Tecnológico Nacional de México, situado no distrito de Roque da cidade de Celaya no estado de Guanajuato, no qual cursei matérias vinculadas ao curso de Inginiería de Industrias Alimentarias. Ao total éramos 5 intercambistas, três vindas da Colômbia, uma vinda da Argentina e eu, representando o Brasil.
Ao desembarcar na Cidade do México, fui recebida por uma viatura da universidade que foi buscar a mim e a outras três intercambistas e nos levou até a casa em que vivemos durante os 4 meses de intercambio. A casa em questão está localizada ao lado dos limites da universidade. No dia em que chegamos, recebemos a visita de membros do conselho estudantil, que se colocaram à disposição de nós e nos mostraram as instalações da universidade. No seguinte dia (sábado), um membro do próprio conselho estudantil nos levou para o centro da cidade para que conhecêssemos.

Foto 1 – Todas as intercambistas no ponto turístico mais conhecido da cidade de Celaya.

No primeiro dia de aula ocorreu uma cerimônia de boas-vindas, no qual era destinada aos novos alunos, aos alunos da própria universidade que se foram em intercambio no semestre anterior e a nós, intercambistas que estávamos sendo recebidas pela universidade. Após a cerimônia fomos apresentadas às personalidades de importância do Instituto Tecnológico de Roque.

Foto 2 – Todas as intercambistas com as personalidades de importância da universidade.

Nos dias seguintes iniciamos as aulas. Duas das intercambistas vindas da Colômbia, e que ambas iriam fazer o mesmo curso, tiveram problemas no momento de matricular-se nas cadeiras que iriam realizar, no entanto, eu e as três demais intercambistas não tivemos problemas no momento da escolha das disciplinas.
No geral fomos muito bem recebidas pela própria universidade. A casa em que ficamos hospedadas contava com internet wifi, todos os móveis básicos, inclusive, nos proporcionaram cobertas, lençóis e travesseiros. A universidade dispunha de serviço de cafeteria, na qual comíamos o café da manhã e o almoço nos dias de semana, para a janta dos dias de semana e as refeições dos finais de semana e feriados era disponibilizada uma lista de comida, em que marcávamos o que queríamos e eles nos traziam, ademais da comida, nos disponibilizavam água potável tratada na própria universidade (a água das torneiras não é potável). O fato de comermos o café da manhã e o almoço na cafeteria da universidade foi de grande importância para que conhecêssemos a culinária tradicional mexicana. A adaptação à comida mexicana foi difícil para ambas as intercambistas, todas nós sofremos bastante com dores de barriga recorrentes, mas que depois de um certo tempo deixou de acontecer para algumas.
Ocorreram alguns inconvenientes envolvendo a pessoa responsável pela mobilidade estudantil (Cláudia Guzmán), e por consequência, responsável por nós intercambistas. Ficamos em uma casa, em que vivíamos em cinco pessoas e passamos um mês com apenas uma chave para abrir e fechar a casa. Quando todas estávamos em aula a casa ficava aberta e sozinha pois não tínhamos como trancar a casa em decorrência da diversidade e desencontro de horários. Outro inconveniente ocorreu no momento da impressão da carteira estudantil, utilizada para obter 50% de desconto no valor do transporte público, que normalmente demora uma semana para ficar pronta. Por certa negligência e falta comunicação, nossas carteiras estudantis demoraram mais de um mês para ficarem prontas. Ademais de tudo isso, a comunicação com a Cláudia era complicada,
não respondia no WhatsApp com frequência e era difícil encontra-la em sua sala. Para que eu realizasse o curso de idioma nativo (que faz parte do programa), foi necessário pressionar a Cláudia para que o me disponibilizasse. Enquanto isso, os membros do conselho estudantil da universidade se colocaram totalmente a disposição de nós. Formamos amizades bem fortes com estas pessoas, e foi através delas que pude conhecer a fundo a cultura mexicana.
A cultura mexicana é bastante diversificada, assim como vemos no Brasil, cada região possui uma característica cultural, que é percebida através das maneiras de se vestir, dos ritmos musicais e a própria linguagem. A cidade de Celaya, está localizada mais ao centro do território mexicano. As características culturais mais fortes desta região são a forma “cantada” de falar e as “músicas de banda”, músicas que não possuem letra necessariamente, algumas são compostas apenas pela parte instrumental (instrumentos de sopro na sua maioria). Os mexicanos são pessoas muito amáveis, dispostas e receptivos, além de serem bastante humildes e honestos.
De maneira geral, me agradou muito realizar o meu intercambio no Instituto Tecnológico de Roque. Eu cursei três matérias e uma delas em questão, Diseño de Plantas Alimentárias (Projeto de Plantas Alimentícias) foi a que mais contemplou o que eu estava buscando, matérias direcionadas ao campo da indústria.
A universidade em que estive conta apenas com cursos de engenharia e é referência nacional na área de Agronomia, isso se deve pelo fato de que foi construída dentro das instalações de uma fazenda de grande importância na cidade de Celaya. Algo que me chamou bastante atenção nas regras gerais da universidade foi que, para obter o título de engenheiro (em qualquer um dos cursos oferecidos) é necessário que se faça um estágio direcionado para o campo de trabalho e um estágio social, no qual geralmente os alunos realizam trabalhos no conselho estudantil ou também dão aulas sobre as coisas que aprenderam na sua graduação.
Eu nunca havia saído do Brasil, e essa experiência foi completamente apaixonante, o fato de ter vivido em uma casa com outras quatro pessoas que falavam espanhol me fez (e também me obrigou) aprender bastante o idioma, não só aprendi da cultura mexicana como também aprendi sobre a cultura colombiana e argentina (por conta de que minhas colegas de intercambio vinham destes países). Tive dois professores de espanhol (alunos da universidade que já vieram para o Brasil pelo BRAMEX) que me ensinaram gramática de espanhol, o dialeto mexicano e principalmente sobre a história e a cultura mexicana.
Seria maravilhoso que todos os alunos tivessem a oportunidade de realizar intercâmbio, além dos conhecimentos que adquirimos durante as aulas, o que se aprende conforme convivemos com uma realidade e pessoas diferentes do que estamos acostumados é indescritível. É uma maneira de obter um grande crescimento como estudante, pelo fato de passar tanto tempo praticando outro idioma, por entrar em contato com outras formas de ensino, além de contribuir para o crescimento como pessoa e futuro profissional. Estou regressando para o Brasil muito contente o que vivi e com o que aprendi."